sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Confessando que se conhece

Confesso: sou o culpado. Interessante como lemos aquilo que queremos. Sou culpado por ler diferente ou querer algo diferente. Sempre pensei (ou sempre pensamos) que o passo para tornar-se cristão era "Confessar os pecados". Confesso, peco em querer reler esse "passo". Não sei se fui ensinado ou se me ensinei a imaginar assim, mas quando pensava em confessar meus pecados, imaginava em relatar a Deus ou Jesus ou sei lá quem a lista de falhas cometidas desde o último confessionário. Fantasiava Deus esperando para ouvir palavra por palavra todos os erros cometidos, para daí então, graças ao que chamava de "Graça", esquecer de tudo o que tinha feito. Mas claro, antes eu teria de explicar e reconhecer os feitos.

Estava lendo essa semana a Primeira Epístola de João, e me deparei com o seguinte no capítulo 1:

"6 Se afirmarmos que temos comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7 Se, porém, andarmos na luz, como Ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado. 8 Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a Sua palavra não está em nós."

"Conhece-te a ti mesmo". Os gregos mandavam muito! Resumiram bem demais esse versículo. Como? O que uma coisa tem a ver com a outra? Este trecho não está falando de uma "causa e efeito", de uma obrigação, de uma prática religiosa e muito menos de uma ação literal. Prestemos atenção ao que me chamou atenção: a condição de estar na luz, caminhar com Deus, não é a ausência de pecado, como diz o versículo 8 ("Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós"). Precisamos confessar os nossos pecados, essa é a condição. Mas o confessar neste caso não é o catalogá-los a Deus ou caminhar com uma culpa angustiante, é na verdade, reconhecer.

Se afirmar que não tenho pecado é enganar-me, significa na verdade que ou sempre estou pecando (e nesse caso o gerundismo não é vício de linguagem e nem erro gramatical) ou sou pecador por natureza (tendo em vista que pecador por natureza não significa que sou geneticamente mal, mas simplesmente que não sou divino, não sou Deus). Logo, o confessar meus pecados é assumir esta minha condição de pecador, de humano, a condição de que peco. E esta condição (como esclareço em outro texto meu deste blog: "Pecar é Humano") não é ruim, má, errada. Apenas não é divina. Esta condição faz parte de nossa liberdade, de nossa vida independente, de nosso amadurecimento. Conheço-me a mim mesmo e compreendo que peco, sou pecador. Agora, começo minha caminhada sem culpa.

A verdade está em reconhecermos quem somos e caminharmos na luz. Agora, o caminho chamado "luz" é a comunhão uns com os outros do versículo 6. Por isso João apresenta essa relação. O que me ensinará a, sendo pecador e conhecedor de quem sou, tomar decisões que me comunguem com Ele, é a comunhão com os outros. Logo, o problema não é a consciencia de ser pecador ou a natureza de pecador, mas, se frente aos outros e sua comunhão eu não opto por manter esta comunhão, afasto-me da luz e caminho para as trevas, logo, não amadureço, não sou purificado deste pecado, não caminho para o amadurecimento.

E tudo isto para dizer: "Conhece-te a ti mesmo". Confesse-se. "Conhece-te a ti mesmo". Depois de confesso, descubra como caminhar na luz. A luz é a comunhão com os outros. A comunhão com os outros é o que nos purifica e nos comunga com o Pai, aquele que, diferente de nós, é livre mas sem pecado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Máxima "brunísticas" - de Bruno Reikdal

- A ambição imposta por um é compartilhada por ambas as partes.

- Filosofia se faz com Peter Pan.

- Ao invés de dizermos o que a vida diz, ouçamos o que ela tem a dizer.

- Ao invés de dizermos o que a Bíblia diz, deixemos ela falar.

- Homem não é bom nem mau, é apenas Homem.

- Homem é homem em qualquer lugar, em qualquer tempo, sendo qualquer um...

- Para aprender, esqueça tudo o que já "sabe".

- Nenhuma parte explica-se por si mesma.

- Porque nos entristecemos quando alguem novo morre? Porque imaginamos a tristeza de não ter a oportunidade de ao menos ser recordado...

- Os deuses são eternos infelizes.

- Não tenho fé por causa de um pós-vida, pois minha vida não é uma grande barganha. Não negocio com Deus. Apenas vivo como homem e caminho para a certeza que tenho: hei de morrer e ser esquecido. Entretanto, a morte e o esquecimento terão de valer a pena.

- Não queira enxergar o mundo através de óculos, enxergue o mundo com seus próprios olhos. Pois, quem disse que nós temos miopia?

- Para além do sentido, é necessário um significado. O sentido orienta, mas o significado é quem fortifica.

- Não sou nem Deus e nem Diabo. Não sou nem Imortal e nem Idiota.

- O extremo da liberdade é, no universo, a solidão.

- O que sei é que a vida é vida e vale a pena viver. Vida pela vida. Curta a curta vida...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Imortais: eternos infelizes!

Hoje andava com uns amigos na rua depois das aulas na faculdade, e lemos uma placa assim: "Jesus Salva", em vários postes e em várias paredes. Meus companheiros filósofos e eu, começamos a questionar-se sobre esta "salvação" com um ar irônico e rindo muito, até chegar ao ponto de um de meus parceiros de caminhada dizer: "Vamos escrever em cima do 'nome' a palavra Filosofia, 'Filosofia Salva'!". Então refleti rapidamente e apresentei uma nova idéia, uma nova crítica, um novo questionamento. Algo que até então nunca passara em minha cabeça. A questão não é "se salva", ou "quem salva?", mas sim, de quê salva? Seja Jesus, Filosofia ou Genésio, salva de quê?

Como cristãos cheio de respostas prontas, somos salvos da "morte". O problema é definir que morte: física? Espiritual? Aquela que nenhum da qual nós pode fugir? Pois bem, para respondermos a isso tudo (esta é uma daquelas perguntas as quais não temos certezas mas precisamos encontrar respostas), precisamos encarar os fatos que em nossa existência se apresentam: tudo tem um fim e nós caminhamos para a morte. A única resposta categórica da vida é que ela morre. Não temos segurança em uma existência que continue depois da morte, não temos certeza de uma vida para além desta, não temos certeza de algum tipo de continuação. A única categórica é a morte certa.

Pensando nisso, não posso tentar alienar aquilo que tenho para viver e/ou fugir da minha própria existência. Aquilo que dá sentido a vida é a morte. É o norte que guia a vida e que possibilita valores e significados para os momentos vividos dentro da existência efêmera e crua. O que faz da vida vida e do homem homem é a morte. A condição primordial e definidora daquele que vive é o destino imutável de morrer. Se admiramos um imortal, não admiramos um vivente, mas apenas um existente. A existência por si não tem sentido, apenas existe. Agora, quando ganha um fim, um ponto final, recebe uma dádiva, um sentido, um significado e pode então ser chamada de vida. Logo, a morte da qual Cristo vem nos salvar não é aquela física que nos "dá a vida", mas aquela que nos rouba a vida. A morte da qual somos salvos é aquela que enquanto vivos estamos mortos. Não saber viver, ou ainda, não fazer com que a vida seja uma vida abundante, uma vida eterna, é a morte. Não amar o próximo, não caminhar com dignidade, humildade, ser prudente e respeitador da vida, gerar vida, é a morte, é estar morto, não salvo.

Portanto, somos salvos de nós, daquilo que nos rouba a vida e nos faz morrer enquanto vivos. A promessa não está em uma troca de vida regrada por vida eterna. Aliás, a idéia de salvação não pode ser uma negociata e nem é uma barganha com Deus. Vivo tal qual ele aconselha e ganho de presente a continuação de minha existência. A Salvação está em descobrir o valor do dom divino, do presente de Deus: da Vida. Jesus salva da morte, daquilo que rouba a vida, do pecado. A existência humana depende de uma morte para ter vida. Negá-la é negar a mensagem de Cristo. Negá-la é não ser humano. Na nossa tentativa de ser divinos, invejamos a imortalidade de seres que são eternamente infelizes, por exemplo as divindades gregas. Os deuses são eternos infelizes. Por isso na mitologia utilizavam dos homens para ferir uns aos outros. Já que nenhum morria, o único sentido de sua ira ou felicidade era naqueles que viviam, nos mortais viventes, os quais em suas limitações e imperfeições eram a dependência dos deuses para suportar sua enfadonha, sem graça, depressiva e sem sentido eternidade. A eternidade só tem valor se antes de si existir a vida, que é a existência norteada pelo fim.

Não tenho fé por causa de um pós-vida, pois minha vida não é uma grande barganha. Não negocio com Deus. Apenas vivo como homem e caminho para a certeza que tenho: hei de morrer e ser esquecido. Entretanto, a morte e o esquecimento terão de valer a pena.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Carpe-diador"...

Depois de anos ouvindo sobre o "Carpe Diem" (Aproveitar o Dia), talvez finalmente tenha começado a compreender esta idéia...

Há o que há. Não o que foi ou o que será. Mas apenas o que há. É estranho pois chamamos o que há de "presente", mas o tratamos como uma maldição, problema ou merecedor de rejeição. Preterimos a única coisa que temos (a vida) pelo que ainda não temos (a morte). Preferimos aquilo que já morreu (o passado e os nossos egos anteriores) como algo bom, o que denominamos saudosismo, ao invés de olhar para a vida que se apresenta e caminhar passo a passo, escolha a escolha. Ou ainda, preferimos e sonhamos com aquilo que ainda não é, aquilo que não existe (que ainda está morto, em estado de dormência). A questão é que a vida só pode ser vivida dentro daquilo que há, daquilo que chamamos de presente, ou ainda, dom de Deus. Qualquer jornada na vida que não for trilhada passo a passo, escolha por escolha, ou não é jornada, ou não é vida. E o contrasenso, é que viver as escolhas passo a passo (o que leva mais tempo) é o que nos faz aproveitar cada segundo da vida melhor, enquanto que não pensar em cada passo pode nos custar todo o tempo.

Aproveitar o dia, Carpe Diem, é escolher bem. Viver bem é escolher bem. O lugar ao Sol só se faz presente se tiver consigo presente as boas escolhas. Não se pode categorizar o que são boas escolhas para uma boa vida, quais as decisões que nos tornam "carpe-diadores", mas sabe-se que o crivo, o critério para sua validade é a consciência de que tudo é breve, tão breve que em segundos é possível deixar escapar o infinito, e que o eterno as vezes escorre em segundos. A vida é uma caminhada. Não uma caminhada qualquer, mas uma caminhada num rio raso, onde não deixamos marcas, caminhamos sozinhos, sem fórmulas e sem enxergar onde os outros passaram, já que as águas nunca são as mesmas. Decidimos por nós qual o caminho, cada passo sendo único, num lugar específico, com águas unas...

A beleza da vida está nela mesma. Conseguir transformar e vivenciar os dias tais quais se apresentam a nós. Aprender a rir, chorar, sonhar, dormir, correr, cair, irradiar, sofrer, viver e morrer. O destino não tem autores e nem a aleatoriedade culpados. Não estamos naquilo que queríamos ou somos o que gostaríamos de ser, apenas somos. Só há o que é. Há o que há. Por isso, Carpe Diem...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conhecer-se: Ser livre...

Transcender as fronteiras é o primeiro passo na busca do "quem somos nós". Quem sou? Quem é? Quem somos? O que ser? Hermann Hesse em seu livro "Caminhada" escreve: "Sob muitos aspectos o andarilho é um ser primitivo... mas é o desdém pelas fronteiras e pela vida sedentária que torna seres como eu [andarilho] os guias do futuro.". Aquele que pretende e sonha com o conhecer-se a si mesmo precisa ser um destes andarilhos. Homens e mulheres que não permitem que o horizonte delimite e separe o céu da terra, os azuis dos ares e das águas. O problema é que aquilo que os olhos não alcançam ou não enxergam nos assusta. Imaginar um mundo para além daquele que se apresenta é assustador, querer contrariar destinos e lutar contra os "deuses" exige muito da vida. O sonho de liberdade pode acabar nos prendendo.

Na busca de quem somos, do conhecer, da essência e do transformar-se, visamos simultaneamente a liberdade. Poder escolher o caminho, trilhar com as próprias pernas, ser independente das regras e exigências, desprendido de imposições, ter consciência de si e tomar as rédeas da própria vida requer compreender a responsabilidade disto. Ser livre, ser o que se é no íntimo, exige da alma uma consciência sempre presente, um comportamento sempre diferente dos outros, sempre maduro e sempre em amadurecimento. A liberdade assusta. Conhecer-se assusta. Descobrir aquele que vive em mim é difícil demais. Ser aquilo que sou, ser livre, requer muita responsabilidade. Mas: "Vos envio como cordeiros no meio de lobos", "Para liberdade que fomos libertos", "Se quiser vir após mim, tome sua cruz e siga-me"... A dificuldade de assumir a vida é que esta só é assumida ser for com o preço da liberdade, e esta com o peso da consciência...